Como construir um campinho com sonho, suor e concreto (e amor)
Por Pedro Leal - Gerente de Projetos love.fútbol
Há 5 anos, na primeira vez que conversei com o time da love.fútbol, ainda antes de fazer parte da equipe, quando me explicavam sobre como era um mutirão de construção, Mano (Silva, diretor de Operações da organização) me descreveu, com os olhos brilhando, como era uma concretagem. “É o dia mais love.fútbol de todo o projeto. É uma energia forte demais.” Depois de todo esse tempo, vivi um bocado de momentos especiais na love, mas me faltava viver um mutirão de concretagem.
No sábado 19 de maio, na comunidade da COHAB I, em Garanhuns, onde há mais de 30 anos os moradores lutam por um espaço de lazer, a gente preparou cedinho a chegada dos voluntários e os primeiros já começaram a chegar antes da hora marcada. Um ou outro já pegava um carrinho de mão e trazia os materiais mais pra perto do canteiro de obras. Me lembro de ter visto Seu Ribeiro para lá e para cá, já suado, antes de começar oficialmente a construção. Pense numa ansiedade!
"Era meio dia e ninguém parava. Catorze carrinhos de mão rodavam o tempo todo carregando concreto pra dentro do campo."
Depois de dividir as equipes por estação, 8 da manhã, os geradores conectados às quatro betoneiras começaram a fazer barulho no terreno. A combustão dos motores parece ter ligado também as 130 voluntárias e voluntários da comunidade já presentes, que estavam divididos entre as equipes de produção do concreto e de transporte dele até a quadra. Nove horas a gente fez uma pausa para o café-da-manhã, a contragosto de uma parte boa dos voluntários. “Vamo parar não, rapaz! Vamo trabalhar pra terminar esse negócio logo!”. Mas era preciso energia extra pro resto do dia e a gente não podia fazer desfeita com Filó, Sandra, Andrea e Leninha, que ficaram até tarde do dia anterior preparando a comida com tanto amor.
Era meio dia e ninguém parava. Catorze carrinhos de mão rodavam o tempo todo carregando concreto pra dentro do campo. No auge do trabalho, aquela massa de pessoas parecia funcionar como se fizessem aquilo junto há anos. Uma da tarde, pausa para engolir o almoço e até aí 30% do concreto tinha sido feito.
- Isso termina hoje, será?
- Mas claro. Vamo simbora! Boooora!
No começo da tarde, alguns voluntários foram saindo aos poucos, alguns exaustos, mas a maioria porque tinha outros compromissos. Depois de 8 horas de trabalho, já estávamos em menos de 70. O sol virado em uma betoneira, o povo todo sujo de concreto, a poeira do cimento cobrindo a obra e no meio disso tudo por alguns segundos os voluntários se entreolhavam e davam força um ao outro sem dizer uma palavra. Seu Ribeiro, 65 anos; Dona Silene, 45; Samilly, 18; Nathan, Caio, Matheus, Carlos, Misael e muitos outros não menos importantes puxavam o bonde sem titubear. Nessa hora, alguns voluntários que tinham saído de manhã, deram uma passada para ver a quantas andava a obra, de banho tomado. Dois minutos depois, todo mundo trabalhando junto de novo. Os voluntários que estavam na logística desde cedo começaram a pegar no pesado. Dona Filó e Alda assumiram as pás.
"As lágrimas que rolavam dos rostos de alguns foram o último ingrediente para dar liga às 77 toneladas de concreto da Arena Cohab I."
Onze horas de mutirão e umas 30 pessoas ainda continuavam. Na última hora, o cansaço era generalizado, mas não tinha mais volta. A energia que restava era compartilhada entre cada um que seguia firme. Com concreto, sonho e suor a COHAB levantou junta o primeiro espaço de lazer da história do bairro. Ninguém que estava presente vai esquecer de Seu Ribeiro e Dona Silene derramando o último carrinho de mão na nova quadra. As lágrimas que rolavam dos rostos de alguns foram o último ingrediente para dar liga às 77 toneladas de concreto da Arena Cohab I. Era um sonho concretizado. Vida longa!
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O Projeto Arena Cohab 1, em Garanhuns (PE) é patrocinado pela rede de Home Centers Ferreira Costa, via Lei Estadual de Incentivo ao Esporte da Secretaria de Esportes, Turismo e Lazer de Pernambuco e realizado em parceria com a organização local Lar da Criança Santa Maria.